3/11/2005

Orangotango

Não é que eu tenha medo de macacos.
Eu tenho medo de orangotangos!
E também, não de qualquer orangotango, somente aquele, o eterno.
Aquele que com sua pena eterna e tinta infinita passa o curso de sua vida rabiscando.
Tenho medo dele porque, segundo Jorge Luiz Borges, no curso da vida de tal ser, ainda que rabisque aleatoriamente ele escreverá tudo o que ja foi escrito, do mais magistral até folhetins tipo Bianca...
O que eu quero dizer é que lamento não poder expressar com nada além de palavras, as mesmas que algum dia o orangotango eterno ultilizará (se é que ja não usou), e que o fato de elas terem sido escritas com sentimento nada significa.
Durante muito tempo não escrevi porque acho que as palavras limitam, formatam as coisas que vemos e sentimos (não vou nem entrar muito na alçada da poesia parnasiana ou da romântica que restringiam ainda mais porque buscavam palavras que rimassem(imaginem, se já é dificil encontrar palavras, ainda ter que encontrar as que rimem ou que perfectibilizem a métrica (Viva o sapo Boi))).
Sempre achei o escritor um canastrão porque percebia a sombra do orangotango e ouvia seu eterno rabiscar.
Gabriel Garcia Marques, me ajudou a pensar na escrita como uma ampliação, como uma das secreções necessárias de nosso corpo, uma nescessidade fisiológica.
A escrita febril da solidão, é ordenar um raciocínio insistente, louco. E, ainda assim, extravaza-lo.
Seria esse o fim da ideía do maldito macaco, vocês haveriam de convir...
Entretanto, uma palavra mais rebuscada (ouviram...?) uma expressão empolada (podem ouvir...?) e .... ali está ele novamente o som de sua pena rabiscando.
Posso até imaginá-lo sorrindo como sorriem os orangotangos com seus beiços arreganhados, rindo de minha pretensão artística....